terça-feira, 17 de março de 2009

A morte não é o fim.
Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra.
Na morte o homem acaba e a alma começa.
Que o digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto.
Digam se não é verdade que ainda há ali alguém e que não acabou tudo?

Eu sou uma alma.
Sei que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser.
O que constitui o meu eu, irá além.

O homem é um prisioneiro.
O prisioneiro escala penosamente as paredes da sua masmorra.
Coloca os pés em todas as saliências e sobe até à janela.
Aí, olha e vê ao longe o prado.
Inspira o ar da liberdade, vê a luz.
Assim é o homem.
O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade.
Como pode o homem duvidar de que vai encontrar a eternidade à sua saída?
Porque não possuirá ele um corpo subtil, etéreo, de que o nosso corpo não é senão um esboço grosseiro?

A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo.
É demasiado pesado para esta terra.
O mundo luminoso é o mundo invisível.
O mundo luminoso não é o que nós vemos.
Os nossos olhos carnais só vêem a noite.

A morte é uma mudança de roupa
A alma que estava vestida de sombra vai ser vestida de luz.
Na morte o homem é imortal.
A vida é o poder que o corpo tem de manter a alma sobre a terra, pelo peso que exerce nela.

A morte é uma continuação.
Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.
As almas, ao passarem de uma esfera para outra, transformam-se cada vez mais em luz.
Aproximam-se cada vez mais e mais de Deus.
O ponto de reunião é no infinito.

Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.
Aquele que está vivo e morre, desperta e vê que é espírito.


Victor Hugo (séc. XIX)

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